quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ritos Iniciais na Santa Missa I


Por D. José Palmeiro Mendes, OSB
Abade Emérito do Abadia Nossa Senhora de Montserrat
(Mosteiro de São Bento), no Rio de Janeiro, RJ


Após os artigos que publicamos nos quatro números anteriores de “`Pedras Vivas”, com considerações gerais sobre a liturgia, iniciamos hoje uma série de notas sobre a santa missa, em que faremos observações diversas sobre seus ritos, visando uma melhor participação no santo sacrifício. Aliás, nunca é demais repetir o que já dissemos: o que a Igreja deseja de forma especial é que os fiéis participem da liturgia toda “com conhecimento de causa, ativa e frutuosamente” (Sacrosanctum Concilium 11). É uma exortação da Constituição Litúrgica do Concílio Vaticano II que é repetida várias vezes por tal documento e que vale de forma especial para o sacrossanto mistério da eucaristia: “A Igreja com diligente solicitude zela para que os fiéis não assistam a este mistério da fé (a missa) como estranhos ou espectadores mudos. Mas cuida para que, bem compenetrados pelas cerimônias e pelas orações, participem consciente, piedosa e ativamente da ação sagrada...”(SC 48).

Não precisamos inculcar aqui a importância da missa para os católicos. “A celebração da missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã tanto para a Igreja universal como local e também para cada um dos fiéis”, diz este documento básico que é a Instrução Geral sobre o Missal Romano (que passaremos a abreviar IGMR) (16). O documento nota que toda a celebração deve ser disposta de tal modo “que leve os fiéis à participação consciente, ativa e plena do corpo e do espírito, animada pelo fervor da fé, da esperança e da caridade. Esta é a participação ardentemente desejada pela Igreja e exigida pela própria natureza da celebração” (18).   

Estrutura geral da missa

“A missa consta, por assim dizer, de duas partes, a saber, a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, tão intimamente unidas entre si, que constituem um só ato de culto. De fato, na missa se prepara tanto a mesa da Palavra de Deus como a do Corpo de Cristo, para ensinar e alimentar os fiéis. Há também alguns ritos que abrem e encerram esta celebração” (IGMR 28).   

“Os ritos que precedem a liturgia da palavra, isto é, entrada, saudação, ato penitencial,Kyrie, Glória e oração do dia, têm o caráter de exórdio, introdução e preparação. Sua finalidade é fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembléia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a palavra de Deus e celebrar dignamente a eucaristia”(IGMR 46).

Início da missa      

A missa começa com o canto de entrada (em latim Intróito).          

Ora, queremos chamar a atenção que a Igreja após o Concílio inculca a importância, a obrigação mesmo, da participação da missa toda: “O Sacrossanto Concílio exorta veementemente os pastores de almas a que, na catequese, instruam os fiéis diligentemente acerca da participação de toda a missa, principalmente nos domingos e dias de preceito” (SC 56).  

As novas gerações talvez nem saibam disso, mas a prática pré-conciliar era de que era obrigatória a presença apenas entre o ofertório e o início do rito da comunhão. Isso levava muitos fiéis a chegarem na igreja depois do sermão do padre (alguns homens chegavam até mais cedo, mas saiam na hora do sermão para fumar um cigarro...) e iam embora quando começava a distribuição da comunhão (poucos fiéis comungavam). Quem fazia isso, agia com a máxima naturalidade, pois estava cumprindo o dever de assistir a missa dominical ou festiva. Ora, se alguém faz isso hoje propositadamente, deve saber que não cumpriu o dever. O fiel que chega atrasado deveria, em si, na medida do possível, ir a uma outra missa para dizer que efetivamente participou da celebração dominical (mas sabemos da dificuldade das celebrações em muitas paróquias e capelas... as vezes aos domingos tem só uma missa, quando tem...). Dizendo tudo isso, não queremos carregar de excessivos escrúpulos (um pouquinho de escrúpulo é sempre bom...) os leitores, mas fazer sim com que procurem fazer todo o possível para que cheguem habitualmente cedo à missa. Para a participação piedosa é conveniente uma certa preparação, fazer alguns momentos prévios de oração particular, de silêncio, quem sabe até ler antecipadamente pelo menos alguns dos textos da missa no folheto ou (o que seria melhor) no pequeno missal dos fiéis.

O que vale para os padres que vão celebrar, vale também, de certa forma, para os fiéis:        

“Queixa-se o sacerdote de que, ao entrar no coro para salmodiar ou ao dispor-se para celebrar missa, imediatamente lhe assaltam o espírito mil coisas que o distraem de Deus. Mas, antes de ir para o coro ou para a missa, que fazia ele na sacristia, como se preparou e que meios escolheu e empregou para concentrar a atenção?” (De um sermão de São Carlos Borromeu, 2ª leitura no Ofício de Leituras na memória deste santo, a 4 denovembro).          

Reunido o povo, enquanto o sacerdote entra com os ministros, começa o canto de entrada. A finalidade deste canto é abrir a celebração, promover a união da assembléia, introduzir no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e acompanhar a procissão do sacerdote (cf. IGMR 47).      

O canto é executado alternadamente pelo grupo de cantores (se existem) e pelo povo, ou pelo cantor e pelo povo (o que é mais comum), ou só pelo grupo de cantores (o que é mais raro, pois se generalizou a idéia de que a assembléia deve cantar, escolhendo-se então, por isso, um canto conhecido ou fácil, mas se vê que é previsto que apenas um coral cante, ainda mais uma peça mais difícil).     

Pode-se usar a antífona com seu salmo, do Gradual Romano (como se faz no Mosteiro de S. Bento e em outros lugares em que se cultiva o canto gregoriano), ou então outro canto condizente com a ação sagrada e com a índole do dia ou do tempo, cujo texto tenha sido aprovado pela Conferência dos Bispos (se vê, portanto, que não é qualquer canto que deveria ser usado – pode ser um canto bonito, de sentido religioso mesmo, mas não deveria ser utilizado se não for condizente com a índole do dia ou do tempo litúrgico).      

Não havendo canto à entrada, a antífona proposta no Missal é recitada pelos fiéis (cf.IGMR 48). Creio que isso é raro no Brasil, mas é algo que deveria talvez ser mais freqüente: não seria melhor recitar a antífona de entrada, ou seja, o texto oficial proposto pela Igreja, que é naturalmente condizente com a ação sagrada e com a índole do dia ou do tempo, em vez de um canto proferido por meia dúzia de pessoas e que nada tem a ver com o dia litúrgico? O problema prático é que os fiéis em geral não tem o texto daantífona, a não ser talvez no domingo, se constar do folheto. Seria necessário ser distribuída uma folha ou ficha com tal texto (oportunamente falaremos da antífona de comunhão, que igualmente pode ser recitada em vez de um canto de comunhão).

A Instrução Geral do Missal prevê também a possibilidade da antífona de entrada ser recitada não por todos os fiéis, mas apenas por alguns deles, ou pelo leitor, ou então pelo próprio sacerdote, que também pode adaptá-la a modo de exortação inicial, como uma monição.         

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