quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Análise crítica da entrevista do Papa.

Por Padre Matthias Gaudron
Stuttgart (fsspx.info). O Padre Gaudron, teólogo e consultor para a comissão da Fraternidade São Pio X responsável pelas discussões teológicas com a Santa Sé, fez uma análise crítica do livro-entrevista de Peter Seewalds com Bento XVI “Luz do mundo”. Ele chega à seguinte conclusão:
Mais uma vez, em um empreendimento do Papa, uma única declaração, ainda que não seja uma declaração central, é debatida e ameaça levar ao esquecimento de todo o resto. Tal como ocorreu em seu discurso de Regensburgo, quando Bento XVI fez comentários críticos sobre o islamismo, bem como durante a sua viagem à África, quando suas declarações sobre os preservativos foram disseminadas de uma maneira totalmente distorcida e muitas vezes pouco verdadeira, assim a imprensa mundial anunciou apenas a manchete de que o Papa finalmente teria permitido os preservativos e festejou esse evento já como uma mudança histórica na teologia moral católica.
O Papa permitiu o uso do preservativo?
Na realidade, o Papa disse apenas que se poderia ver um primeiro passo para a moralização e responsabilidade por parte de um prostituto que usa o preservativo com a intenção de evitar o contágio da AIDS. De modo semelhante se poderia dizer também que a decisão de um ladrão assassino de, no futuro, limitar-se ao roubo, a fim de nunca mais ameaçar a vida de outra pessoa, poderia subjetivamente ser um primeiro passo na direção da moralização. Daí inferir que o roubo seria moralmente defensível seria tão desonesto quanto a afirmação de alguns bispos e teólogos, que dizem que agora Bento XVI teria escancarado a porta para os contraceptivos.
Na verdade, o Papa não é totalmente inocente nessas interpretações ao falar sobre “casos únicos fundamentados”. De modo particular, quando Seewald lhe indagou se a Igreja “não seria então fundamentalmente contra o uso de preservativos”, ele deveria ter dado uma reposta inequívoca. Porém, ele disse apenas que a Igreja não vê os preservativos como uma “solução real e moral” e que, em “um ou outro caso”, eles poderiam ser um primeiro passo no caminho para uma sexualidade mais humana. Essa é uma declaração fraca – para falarmos de maneira suave. Naturalmente o Papa não negou que a sexualidade humana só é vivida de maneira decente e conforme a vontade de Deus no matrimônio e, nesse caso, os preservativos e outros contraceptivos são moralmente censuráveis, mas também ele não enfatizou isso de maneira expressiva, como seria absolutamente necessário hoje em dia.
Assim, com a sua tentativa de, possivelmente, se aproximar do mundo secular e não magoar a ninguém, o Papa tem uma parcela de culpa pela confusão e decepção desencadeadas pela mídia nos últimos dias dentre os católicos fiéis.
A declaração também contém uma redução do ensinamento católico sobre a moral, no sentido de que a Igreja aprovaria o controle de natalidade natural (p. 176). Sem dúvida, é moralmente justificável que um casal faça uso dos dias inférteis no ciclo da mulher para prolongar o espaçamento entre os filhos ou até mesmo limitar o número de filhos, quando, por motivos de saúde, financeiros ou semelhantes razões graves, ter outras crianças na família constitua algo insuportável. Assim, da maneira que o Papa se expressa, pode parecer que um casal teria a permissão de utilizar o controle de natalidade natural da mesma forma que outros casais utilizam contraceptivos, para ter poucos filhos ou não ter filho algum. Mas esse não é o caso, porque os filhos são o primeiro objetivo do casamento.

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