quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ritos Iniciais na Santa Missa II

Por D. José Palmeiro Mendes, OSB 
Abade Emérito do Abadia Nossa Senhora de Montserrat(Mosteiro de São Bento), no Rio de Janeiro, RJ 





A procissão de entrada  

Uma palavra sobre a procissão de entrada. Também ela precisa ser valorizada e ser bem feita. Requer um determinado percurso: nos dias solenes, da sacristia, passando pelo meio da igreja, até o altar; ainda com alguma solenidade, embora menor, aos domingos; mais simples nos dias de semana. Cada igreja tem sua disposição, por vezes não muito boa, mas que tem que se aceitar (por exemplo, a procissão começa na porta da igreja, mas para lá chegar o padre ou os padres e ministros tem que sair da sacristia localizada na frente, passando já pela igreja, pois não há outra porta...). O importante é que todos caminhem em silêncio (como é triste ver certas celebrações em que os concelebrantes vão conversando...), sem pressa, de forma cadenciada. A procissão de entrada nos fala da Igreja peregrina neste mundo, a caminho da casa de Deus na glória eterna.          


A propósito, é muito expressivo e bem litúrgico o conhecido canto de entrada:

“Reunidos em torno de nossos pastores,         
nós iremos a ti.       
Armados com a força que vem do Senhor,     
nós iremos a ti.       
Professando todos uma só fé,    
nós iremos a ti.       
Sob o impulso do Espírito Santo,           
nós iremos a ti”.      

A procissão, a seu modo, é uma pregação: Cristo, o Senhor, está vindo; a cruzprocessional é seu sinal; o livro do Evangeliário contém sua Palavra; o sacerdote é sua mão; as velas acesas nos dizem que Ele é a luz do mundo; o incenso proclama: a Ele a glória e o louvor.  

O sinal da cruz      

“Chegando ao presbitério, o sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o altar com uma inclinação profunda” (IGMR 49). Se o sacrário está no espaço do presbitério, em vez da inclinação se faz naturalmente uma genuflexão diante dele.

(A propósito da genuflexão, aproveitamos para chamar a atenção de que uma genuflexãoé feita para adorar o Santíssimo Sacramento que está no sacrário. Se numa igreja o Santíssimo está numa capela lateral, o fiel que entra na igreja não fará nenhumagenuflexão, mas uma inclinação profunda para o altar, que representa Cristo. Ora, se vê tanto fiéis que entram nas igrejas e de forma automática fazem uma genuflexão, não se dando conta que não está lá frente o Santíssimo Sacramento....)   

Em seguida, em sinal de veneração, o sacerdote e o diácono (se houver) beijam o altar, havendo ainda, no caso de missa solene, a incensação do altar e da cruz. 

Enfim, concluído o canto de entrada, o sacerdote, de pé junto à cadeira, junto com toda aassembléia, faz o sinal da cruz”(IGMR 50).     

Queremos chamar a atenção para o sinal da cruz. Ele precisa ser valorizado, ele precisa ser bem feito, e não em forma de rito maquinal. Ele já é, em si – na missa e fora da missa – uma breve e bela oração. É o gesto distintivo do cristão. Com ele se dá início a todas as celebrações litúrgicas, não só a da eucaristia, indicando que ela é realizada em nome da Santíssima Trindade, o mais sublime dos mistérios cristãos, que nos revela a constituição e a vida íntima de Deus.          

O excelente liturgista alemão Theodor Schnitzler, em sua obra muito recomendável, lamentavelmente esgotada, “Missa, mensagem de vida” (Edições Paulinas 1978, tradução do nosso monge D. Mateus Rocha), observa: “A missa começa no batismo. Quando uma pessoa se faz cristã, derrama-se água sobre sua cabeça, em forma de cruz, e pronunciam-se as palavras: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Quando o cristão celebra a eucaristia, ele se recorda do começo e da fundação. Só o batizado é que pode celebrar ou participar da celebração eucarística” (p. 64).

E mais adiante: “A missa começa: “Em nome”, “eis to onoma”, diz o original grego [expressão impossível de traduzir em nossa língua] e significa, aproximadamente: “Para dentro do nome”, “mergulhando no nome”. Do mesmo modo que a fórmula batismal, que é parte constitutiva do sacramento, nos faz mergulhar na vida e no ser próprio de Deus, assim também a eucaristia nos faz mergulhar, a seu modo, no nome de Deus. “Em nome”: palavras que aqui ressoam como: na essência, no ser, no mar infinito da glória divina” (p. 67).    

Feito o sinal da cruz, o sacerdote saúda o povo presente. A chamada “edição típica”, ou seja, a edição oficial, em língua latina, do Missal (3ª edição, ainda não publicada no Brasil), contém três fórmulas de saudação, todas elas tiradas da Escritura.. A atualedição brasileira do Missal, aprovada pela Santa Sé,apresenta sete fórmulas, que o sacerdote pode escolher livremente, todas igualmente tiradas da Bíblia (a maioria de Cartas paulinas). O Bispo, por antiga tradição, pode escolher ainda uma outra fórmula – “A paz esteja convosco” – que é a saudação de Cristo ressuscitado aos Apóstolos. Esta saudação inicial não é tanto e em primeiro lugar uma palavra de boas vindas, dirigida àassembléia, mas uma saudação em sentido religioso, em virtude de uma vocação e de uma graça divina. A saudação é um desejo de bênção da parte de Deus, que chama seu povo para a Eucaristia, e lhe concede graça e paz.

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