Abade Emérito do Abadia Nossa Senhora de Montserrat(Mosteiro de São Bento), no Rio de Janeiro, RJ
A parte 1 deste estudo encontra-se neste link http://grupodosleitores.blogspot.com/2010/10/ritos-iniciais-na-santa-missa-i.html
A procissão de entrada
Uma palavra sobre a procissão de entrada. Também ela precisa ser valorizada e ser bem feita. Requer um determinado percurso: nos dias solenes, da sacristia, passando pelo meio da igreja, até o altar; ainda com alguma solenidade, embora menor, aos domingos; mais simples nos dias de semana. Cada igreja tem sua disposição, por vezes não muito boa, mas que tem que se aceitar (por exemplo, a procissão começa na porta da igreja, mas para lá chegar o padre ou os padres e ministros tem que sair da sacristia localizada na frente, passando já pela igreja, pois não há outra porta...). O importante é que todos caminhem em silêncio (como é triste ver certas celebrações em que os concelebrantes vão conversando...), sem pressa, de forma cadenciada. A procissão de entrada nos fala da Igreja peregrina neste mundo, a caminho da casa de Deus na glória eterna.
A propósito, é muito expressivo e bem litúrgico o conhecido canto de entrada:
“Reunidos em torno de nossos pastores,
nós iremos a ti.
Armados com a força que vem do Senhor,
nós iremos a ti.
Professando todos uma só fé,
nós iremos a ti.
Sob o impulso do Espírito Santo,
nós iremos a ti”.
A procissão, a seu modo, é uma pregação: Cristo, o Senhor, está vindo; a cruzprocessional é seu sinal; o livro do Evangeliário contém sua Palavra; o sacerdote é sua mão; as velas acesas nos dizem que Ele é a luz do mundo; o incenso proclama: a Ele a glória e o louvor.
O sinal da cruz
“Chegando ao presbitério, o sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o altar com uma inclinação profunda” (IGMR 49). Se o sacrário está no espaço do presbitério, em vez da inclinação se faz naturalmente uma genuflexão diante dele.
(A propósito da genuflexão, aproveitamos para chamar a atenção de que uma genuflexãoé feita para adorar o Santíssimo Sacramento que está no sacrário. Se numa igreja o Santíssimo está numa capela lateral, o fiel que entra na igreja não fará nenhumagenuflexão, mas uma inclinação profunda para o altar, que representa Cristo. Ora, se vê tanto fiéis que entram nas igrejas e de forma automática fazem uma genuflexão, não se dando conta que não está lá frente o Santíssimo Sacramento....)
Em seguida, em sinal de veneração, o sacerdote e o diácono (se houver) beijam o altar, havendo ainda, no caso de missa solene, a incensação do altar e da cruz.
Enfim, concluído o canto de entrada, o sacerdote, de pé junto à cadeira, junto com toda aassembléia, faz o sinal da cruz”(IGMR 50).
Queremos chamar a atenção para o sinal da cruz. Ele precisa ser valorizado, ele precisa ser bem feito, e não em forma de rito maquinal. Ele já é, em si – na missa e fora da missa – uma breve e bela oração. É o gesto distintivo do cristão. Com ele se dá início a todas as celebrações litúrgicas, não só a da eucaristia, indicando que ela é realizada em nome da Santíssima Trindade, o mais sublime dos mistérios cristãos, que nos revela a constituição e a vida íntima de Deus.
O excelente liturgista alemão Theodor Schnitzler, em sua obra muito recomendável, lamentavelmente esgotada, “Missa, mensagem de vida” (Edições Paulinas 1978, tradução do nosso monge D. Mateus Rocha), observa: “A missa começa no batismo. Quando uma pessoa se faz cristã, derrama-se água sobre sua cabeça, em forma de cruz, e pronunciam-se as palavras: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Quando o cristão celebra a eucaristia, ele se recorda do começo e da fundação. Só o batizado é que pode celebrar ou participar da celebração eucarística” (p. 64).
E mais adiante: “A missa começa: “Em nome”, “eis to onoma”, diz o original grego [expressão impossível de traduzir em nossa língua] e significa, aproximadamente: “Para dentro do nome”, “mergulhando no nome”. Do mesmo modo que a fórmula batismal, que é parte constitutiva do sacramento, nos faz mergulhar na vida e no ser próprio de Deus, assim também a eucaristia nos faz mergulhar, a seu modo, no nome de Deus. “Em nome”: palavras que aqui ressoam como: na essência, no ser, no mar infinito da glória divina” (p. 67).
Feito o sinal da cruz, o sacerdote saúda o povo presente. A chamada “edição típica”, ou seja, a edição oficial, em língua latina, do Missal (3ª edição, ainda não publicada no Brasil), contém três fórmulas de saudação, todas elas tiradas da Escritura.. A atualedição brasileira do Missal, aprovada pela Santa Sé,apresenta sete fórmulas, que o sacerdote pode escolher livremente, todas igualmente tiradas da Bíblia (a maioria de Cartas paulinas). O Bispo, por antiga tradição, pode escolher ainda uma outra fórmula – “A paz esteja convosco” – que é a saudação de Cristo ressuscitado aos Apóstolos. Esta saudação inicial não é tanto e em primeiro lugar uma palavra de boas vindas, dirigida àassembléia, mas uma saudação em sentido religioso, em virtude de uma vocação e de uma graça divina. A saudação é um desejo de bênção da parte de Deus, que chama seu povo para a Eucaristia, e lhe concede graça e paz.
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