segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Academia das Ciências: o Papa revoluciona “de novo”?

Por Padre Demétrio (Ignem in Terram)

No sábado, 15 de janeiro, ao mesmo tempo que erigia na Inglaterra e Gales o primeiro Ordinariato para fieis provenientes do anglicanismo, o Papa Bento XVI nomeu como presidente da Pontifícia Academia de Ciências o acadêmico Werner Arber, de 81 anos de idade, professor emérito de Microbiologia na Universidade de Basiléia e prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1978.
Até aí, nenhuma dificuldade. Mas o que suscitou reações opostas foi o fato do professor Arber não ser católico senão protestante. Estas reações foram desde o escândalo de alguns diante do revolucionário fato de que Bento XVI ponha um protestante como cabeça da Academia de Ciências, até a complacência de outros (sempre dispostos a ignorar grande parte dos atos pontifícios, a tergiversar os que não podem ser ignorados e finalmente elogiar aqueles que mais os servem para promover sua própria ideologia) pelo mesmo fato de que Bento XVI ponha um protestante como cabeça da Academia de Ciências…
Deste modo, o mesmo fato produz duas leituras diametralmente opostas e suscita sentimentos contrários. Mas tanto uns como outros tem em comum que sua postura é equivocada. Do mesmo modo que é equivocado dizer, como fizeram alguns (ainda que movidos, como se disse, pela insaciável necessidade de promover a própria ideologia), que agora há um protestante na Cúria Romana dado que, na realidade, a Pontifícia Academia de Ciências  não forma parte, estritamente falando, da Cúria Romana, senão que é um organismo que presta um serviço necessário e útil ao Romana Pontífice, à Cúria e à Igreja Universal  (cfr. Constituição Apostólica Pastor Bonus).
Para compreender por que a decisão do Papa Bento, ainda que nova, não representa uma opção revolucionária, senão que está em conformidade com a natureza deste particular organismo, apresentamos nossa tradução de um esclareceodor artigo do vaticanista Gian Guido Vecchi publicado no Corriere della Sera.

Ratzinger elege um protestante para guiar a Academia das Ciências

Por Gian Guido Vecchi
A instituição nasceu em 1603 como a originária Accademia dei Lincei, e quanto Pio XI deu-lhe o novo nome e os novos estatutos, no Motu propio de 1936 In multis solaciis, explicou que na eleição dos cientistas “não moveram os louvores que a favor dos nomes provinham, com unânimo consenso e aprovação, do mundo e dos doutos” e “em diversas nações”: o valor como critério essencial, sem discriminações, também mais além do “preciosíssimo dom da fé católica”. O sentido da cultura, a abertura universal ao conhecimento: o espírito da Pontifícia Academia das Ciências – 80 membros, entre os quais 36 prêmios Nobel, e personalidades como Rita Levi Montalcini, Carlo Rubbia o Stephen Hawking – teve sua coroação ontem, com Bento XVI, que decidiu pela primeira vez em quatro séculos nomear em seu vértice um cientista não católico.
O novo presidente da Academia é, de fato, o suiço Werner Arber, de 81 anos, cristão protestante reformado e prêmio Nobel de medicina em 1978: professor emérito de Microbiologia na Universidade de Basilera, Arber foi premiado em Estocolmo junto a Hamilton O. Smith y Daniel Nathans por suas investigações no campo da genética. Em particular se dedicou ao estudo do mecanismo de defesa da célula bacteriana contra os vírus: sua obra está ligada à descoberta de particulares enzimas, as de restrição, que podem ser empregadas no estudo da organização genética e que abrem o caminho à engenharia genética. O professor Arber sucede a outro grande cientista, el físico italiano Nicola Cabibbo, que tinha guiado a Academia desde 1993 e faleceu em 16 de agosto do ano passado.
Por outra parte, Arber é acadêmico pontifício desde 1981 e conselheiro desde 1995, “não pode imaginar quantos e-mail’s e chamadas telefônicas de felicitações temos recebido”, sorri o bispo chanceler da Academia Marcelo Sánchez Sorondo: “O Santo Padre realizou um gesto lúcido, valente, inteligente: elegeu a um não católico, se bem cristão e crente, valorizando suas qualidades científicas e sua experiência”. Porque este é o espírito: “Desde que a criou o príncipe Federico Cesi, sob Clemente VIII, se queria das vida a um ‘Senado cientíco’ para a Santa Sé, como dizia Pio XI: desde a evolução à definição da morte, se discute livremente tudo, a Igreja segue os últimos desenvolvimentos, bucam-se critérios comuns nas questões emergentes”.
Quanto aos critérios para ser admitidos à Academia, explica o Chanceler, são essencialmente dois: “Elegem-se investigadores que sobressaem em seu campo e ao mesmo tempo sejam representativos dos ramos das ciências naturais, assim como de todo o mundo”. E isto, como disse João Paulo II, “sem nenhuma forma de descriminação ética ou religiosa”. Nenhyma opção confessional para os acadêmicos pontifícios: basta, é o mínimo, que não haja nenhuma hostilidade à Igreja e à fé. Deste modo, a história da Pontifícia Academia é uma sorte de compêndio da história da Ciência: desde Galileo a gênios do século XX como Guillermo Marconi, Max Planck, Edwin Schrodinger o Alexander Fleming.

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