quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sobre a liberdade (O Profeta | Khalil Gibran)

 E um orador disse, Fala-nos da Liberdade.
E ele respondeu:
Às portas da cidade e junto à lareira já vos vi prostrados a venerarem a vossa
própria liberdade.
Tal como os escravos se curvam perante um tirano e o louvam enquanto ele
os açoita.

Ah, no bosque do templo e à sombra da cidadela já vi os mais livres de entre
vós usarem a liberdade como grilhetas.
E o meu coração sangrou por dentro; pois vós só podeis ser livres quando até mesmo a busca da liberdade se tornar um empecilho para vós, e quando deixardes de falar da liberdade como uma meta e um realização.

Sereis verdadeiramente livres não quando os vossos dias não tiverem uma
Preocupação, nem as vossas noites necessidades ou mágoas.
Mas quando estas coisas rodearem a vossa vida e vós vos ergais acima delas,
despidos e libertos.

E como vos podereis erguer para lá dos dias e das noites a menos que
quebreis as cadeias que, na aurora do vosso conhecimento, apertastes à volta do
entardecer?
Na verdade, aquilo a que chamais liberdade é a mais forte dessas cadeias,
embora os seus aros brilhem à luz do sol e vos ofusquem a vista.  

E o que é isso senão fragmentos do vosso próprio ser de que vos libertareis
para vos tornardes livres?
Se se trata apenas de uma lei injusta que ireis abolir, essa lei foi escrita com a
vossa mão apoiada na vossa fronte.

Não podereis apagá-la queimando os livros das leis, ou lavando as frontes
dos vossos juizes, embora despejeis o mar sobre eles.
E se é um déspota que ireis destronar, certificai-vos primeiro de que o trono
erigido dentro de vós também é destruído.
Pois como pode um tirano mandar sobre os livres e os orgulhosos, senão
exercendo a tirania sobre a liberdade deles e sufocando-lhes o orgulho?

E se se trata de uma preocupação que quereis fazer desaparecer, essa
preocupação foi escolhida por vós e não imposta.
E se é um receio que quereis afastar, a origem desse receio reside no vosso
coração e não na mão daquele que receais.
Na verdade, todas as coisas se movem dentro do vosso próprio ser em
constante meia união, o desejado e o receado, o repugnante e o atraente, o
perseguido e o de quem quereis escapar.
Estas coisas movem-se dentro de vós como luzes e sombras, aos pares,
agarradas.
E quando a sombra se desvanece e deixa de ser, a luz que resta torna-se
sombra para uma nova luz.
Por isso, a vossa liberdade quando perde as cadeias torna-se ela própria uma
cadeia de maior liberdade.

O Profeta | Khalil Gibran

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