terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Bento XVI : Natal, além do sentimentalismo


Nessa quarta-feira na audiência geral

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 7 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos a catequese de Bento XVI dessa quarta-feira, 5 de janeiro, durante a audiência geral com os peregrinos na Sala Paulo VI, no Vaticano. 
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Queridos irmãos e irmãs!
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As celebrações litúrgicas destes dias santos nos permitiram viver de maneira misteriosa, porém real, a entrada do Filho de Deus no mundo, e fomos iluminados mais uma vez pela luz de seu esplendor. Cada celebração é presença atual do mistério de Cristo e nela se prolonga a história da salvação. A propósito do Natal, o Papa São Leão Magno diz: “Mesmo que a sequência de ações corporais já tenha passado, como foi ordenado no desígnio eterno..., nós ainda adoramos continuamente o mesmo parto da Virgem que produz nossa salvação” (Sermão sobre a Natividade do Senhor, 29,2), e afirma: "porque aquele dia não passou de forma tal que tenha passado a força da obra que então foi revelada”  (Sermão sobre a Epifania,  36,1). Celebrar os eventos da encarnação do Filho de Deus não é fazer uma simples recordação de fatos do passado, mas é tornar presentes os mistérios que trazem a nossa salvação. Na Liturgia, na celebração dos sacramentos, os mistérios se tornam presentes e eficazes para nós hoje. São Leão Magno diz ainda: “Tudo o que o Filho de Deus fez e ensinou para reconciliar o mundo, não conhecemos somente na história de ações feitas no passado, mas estamos sob o efeito do dinamismo de tais ações no presente” (Sermão 52, 1).


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A celebração litúrgica do Natal, então, não é apenas uma recordação, mas, acima de tudo, mistério; não é só memória, mas também presença. Para compreender o significado desses dois aspectos inseparáveis, devemos viver intensamente o Tempo natalino, como a Igreja o apresenta. Se o considerarmos no sentido mais amplo, ele se estende por quarenta dias, de 25 de dezembro a 2 de fevereiro, da celebração da Noite de Natal, à Maternidade de Maria, à Epifania, ao Batismo de Jesus, às bodas de Caná, à Apresentação no templo, por analogia com o Tempo pascal, que forma uma unidade de cinquenta dias até Pentecostes. A manifestação de Deus na carne é o acontecimento que revelou a Verdade na história. Com efeito, a data de 25 de dezembro, ligada à ideia da manifestação solar – Deus que aparece como uma luz sem ocaso no horizonte da história – nos lembra que não se trata apenas de uma ideia, de que Deus é a plenitude da luz, mas de uma realidade para nós homens já realizada e sempre atual: hoje, como então, Deus se revela na carne, ou seja, no "corpo vivo" da Igreja peregrina no tempo, e nos Sacramentos nos dá a salvação hoje.


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É preciso resgatar essa época de Natal de um revestimento muito moralista e sentimental. A celebração do Natal não nos propõe somente exemplos a imitar, como a humildade e pobreza do Senhor, sua bondade e amor para com os homens; mas é, mais que tudo, o convite a deixarmo-nos transformar totalmente por Aquele que veio em nossa carne. São Leão Magno exclama: "o Filho de Deus...  se juntou a nós e uniu-nos para si de tal modo que o rebaixamento de Deus à condição humana se tornasse a elevação do homem às alturas de Deus” (Sermão sobre a Natividade do Senhor 27, 2).



Caros amigos, vivamos este tempo natalino com intensidade: depois de adorar o Filho de Deus feito homem e deitado na manjedoura, somos chamados a passar ao altar do Sacrifício, onde Cristo, o Pão vivo que desceu do céu, oferece-se a nós como verdadeiro alimento para a vida eterna. E o que vimos com nossos olhos, na mesa da Palavra e do pão da Vida, isso que contemplamos, que nossas mãos tocaram, o Verbo feito carne, anunciamo-lo ao mundo com alegria e testemunhemos com generosidade com toda a nossa vida. Renovo, de coração, a todos vós e a vossos queridos saudações para o Ano Novo e desejo-vos uma boa festividade da Epifania.
Traduzido por ZENIT
[Em seguida, o Papa fez um resumo de sua catequese em português, saudou os fiéis de língua portuguesa presentes na audiência e concedeu a todos a sua bênção apostólica.]

“Queridos irmãos e irmãs,

O tempo do Natal nos causa um fascínio particular porque se relaciona com as aspirações e esperanças mais profundas do coração humano. Nas recentes celebrações litúrgicas, vivenciamos, de modo misterioso - mas real - a vinda do Filho de Deus no mundo. Com efeito, celebrar os eventos da encarnação do Filho de Deus não é fazer uma simples recordação de fatos do passado, mas é tornar presente os mistérios que trazem a nossa salvação. Neste sentido, o Natal é o começo do mistério central da salvação – a Páscoa - pois, ao encarnar-se, Jesus dá início ao oferecimento de si mesmo, que culmina com a sua paixão, morte e ressurreição. Assim sendo, a celebração do Natal não somente nos propõe exemplos a serem imitados, como a humildade e pobreza do nosso Salvador, mas, acima de tudo, é um convite para que nos deixemos transformar totalmente por aquele que assumiu a nossa carne.

Saúdo com profunda amizade os peregrinos de língua portuguesa presentes nesta Audiência, particularmente os fiéis vindos do Brasil. Neste início de ano, invoco sobre todos vós as luzes e bênçãos do Céu, para que possais anunciar e testemunhar alegremente, com palavras e obras, a vinda do Verbo que se fez carne. Ide em paz!”
[©Libreria Editrice Vaticana]

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